top of page

AUTORRETRATO I

 

//

a arte que faço me registra na história mais do que o sapato que eu calço. o corpo é tela em branco tanto quanto o canson A4 que penduro pelas paredes do meu quarto.
me penduro e me exponho.
sou obra de arte. do sapato que eu calço ao meu último cacho.
me faço arte. porque é só o que eu sei fazer.
e por ser arte minha, me registro na história e nas paredes do meu quarto.
do brado mais retumbante que solto na garganta quando canto desafiando regras de afinação, ao quadril incansável que dança até o chão, aos dedos finos e pequenos que pintam essa tal canson. pros ouvidos, atentos, que captam os batuques que os pés reproduzem enquanto ando no ônibus, as sobrancelhas que se juntam, aos olhos que arregalam, as expressões que manifesto. cada unha pintada de preto. cada tatuagem delicadamente posicionada. cada pêlo do meu corpo, cada tom de cabelo, cada (particularmente muito bem feitos, convenhamos) delineado milimetricamente desenhado.
eu sou minha própria tela em branco. eu sou meu próprio caderno com páginas em branco.
e coloco cada um dos que cruzam meu caminho para desafinar dançar pintar batucar juntar arregalar e manifestar. porque eu me manifesto em cada um na encruzilhada.
e deixo manifestar em mim quem quiser manifestar.
me jogo de dentro pra fora, sentimento em arte.
e absorvo pessoas de fora pra dentro, arte em sentimento.
vira cíclico.
mas, se liga no que — de tudo isso aí que eu escrevi — é de fato importante:
todo manifesto é arte.
arte é manifestação.
e eu faço o que eu quiser com essa informação.

SENTIMENTO DO MUNDO

//

Eu senti cada segundo de cada minuto de cada hora de cada dia dessa semana. Senti segundo por segundo caminhando em marcha lenta por cada milímetro de pele que me empacota. Senti cada um dos segundos marchando pé ante pé ante pé ante pé no intervalo quase inexistente entre cada camada de tecido que reveste meu corpo e me aquece e me protege do mundo. Ou que protege o mundo da explosão que seria meu corpo desempacotado. Mas repito. Cada segundo — sem plural, individualmente falado, para que pareça ainda mais sufocante como uma roupa de couro grudada, me costurando da ponta do pé ao topo da cabeça — era o que eu sentia escorrendo, gosmento e viscoso, sob minha pele.
Segundo. Por. Segundo.
E em um segundo percorro vinte mundos. Vinte suposições. Vinte distopias que minha mente esburacada ainda consegue produzir.
Vazo.
Por todos os milhares de buraquinhos que percorrem minha pele porosa, os poros. Vazo lágrimas, vazo suor, vazo catarro, vazo xixi e a quem diga que todas tais excreções são primas.
Cada poro, segundo a segundo, sendo tampado e destampado pelos pés marchantes dos segundos que me percorrem.
Eu vejo o tempo passando na velocidade da luz em câmera lenta. Como se ao atingir 200km/h o tempo parasse nessa velocidade. Tudo passa rápido, mas não passa, é um borrão pela janela enquanto levo horas pra completar o ciclo de uma piscada. Um fechar das pestanas.
E eu vejo as pontas dos meus dedos percorrendo minha carne de dentro pra fora, como se eu hospedasse um alienígena que circula por diferentes partes do meu corpo tentando achar um lugar fácil de sair.
Eu implodo em agonia

Vibro, espalho, queimo, brilho, explodindo dessa vez. Cores espalham, luzes acendem e apagam, as paredes escorrem a gosma visceral do que constitui meu ser, o chão sua vermelho vívido e verde neon borbulhante. Os cabelos voam como serpentina no primeiro carnaval da escola, cada pequena parte do corpo atinge seu ápice existencial, encontrando um verdadeiro sentido para a carcaça que transporta minha mente.
Sobra só a mente.
Penso com calma, com mais leveza e tranquilidade, como se o mar da praia do pernambuco no Guarujá pudesse fazer a trilha sonora da minha vida. É assim que idealizo tranquilidade como boa sereia que sou. Penso que me sinto livre de formatos de corpo, me sinto livre de imposições sobre o corpo, me sinto livre de tamanhos de corpo, me sinto livre das verdades do corpo. Me sinto livre do peso que é carregar um corpo com o poder da minha mente.
Percebo que, como o Magneto move moedas através de crânios, eu movo um corpo completo através de cânions.
Não tenho olhos para fechar ou ouvidos para aguçar, mas capto o som das ondas quebrando na escuridão que é pensar.
Indo e voltando
Indo e
Voltando
Indo
E voltando
Indo
E
Voltando
Indo e voltando
E Voltando
E Voltando
Voltando.
Inversamente proporcional à velocidade dos segundos que passam, meu corpo se reconstitui. Eu sou inteira de novo e de novo carrego o fardo que é manter funcionando um bem empacotado corpo com o poder da minha mente angustiada.
Não passaram nem dois minutos.

LATENTE VOLÚPIA 

//

 

a textura de sua carne macia contrasta com sua não-semente dura,

quem diz, sem te apalpar, que estás madura?

rasgo tua pele a fim de te devorar desnuda,

teus fios abraçam meus dentes com delicadeza e ternura,

ritual de te devorar, lambuzada doçura.

 

teu cheiro meloso me deixa enjoada,

grande e suculenta forma alongada

polpa carnosa de fruta adocicada.

dizem que perigosa se combinada ao leite

não me impede de desaguar em deleite

te fazendo vitamina.

 

como o cão que te chupa

lambeio os dedos, os lábios

sujando

rasgo tua carne, tua casca

mordendo

escorro entre mãos e queixo

babando

te devoro inteira

lambendo

 

contato liso da pele, escorrega

martírio daquele que te segura.

carne delicada como a seda que carrega

guardada em segredo nuclear.

gosto do som de quando sugo seu suco

sumo que faz salivar...

não preciso te provar agora

porque já te provei o bastante

mas sinto falta do teu sabor, às vezes,para variar...

AUTORRETRATO II

 

//

 

despida. nua num dia de nevasca, vento muito gelado.
desnuda no deserto, num dia de excessivo calor.
quero rasgar e arrancar minha carne.
vulnerabilidade.
monomania minha de sentir de jeito tão intenso cacos de vidro tão pequenos que adentram meu pé quando quebro um copo lavando a louça descalça.
como se todo sentimento fosse fogos de artifício. como se todo sentimento precisasse ser desoprimido do peito como os palavrões que grasno desesperada quando bato o dedinho na quina.
crua.
tola.
berro a largos pulmões saudáveis, tremelico as cordas vocais bramindo. exausta, me derrubo
me derramo
pelos poros, suo
lágrima.
desistente, por hora
busco fôlego na hora seguinte.
recomeço, sempre despida. às vezes ao avesso. sempre sentindo.

VIAJO PORQUE ME AMO.

 

//

 

na poltrona do busão, de uma cidade a outra, de um estado a outro. tenho estado em corações. tenho visitas frequentes de olhares e preocupações despreocupadas.
procuro-me. a todo tempo, em todo segundo.
ao meu lado, um senhorzinho dorme com o cotovelo apoiado na janela e a cabeça na mão, despreocupadamente preocupado. procurando-se.
o sol bate lindo nos troncos compridos das árvores da beira da estrada.
o interior tem peculiaridades que vi pouco no litoral, que vi pouco na capital.
o litoral tem particularidades que não encontro na capital, não encontro no interior.
a capital tem idiossincrasias que não tem interior ou litoral.
e circulo por todos. como as hemoglobinas nas minhas veias, sou bolinha pulsátil invisível nos corredores das vias rurais, pela rodovia.
de preferência poltrona 8, é meu número preferido.
posso ter escrito este texto há 1 semana ou neste segundo, não importa. em todos os momentos continuo procurando-me.

RESQUÍCIOS DE MIM

 

//

 

em possessão (2012) o espírito maligno tenta sair de dentro da garotinha que possuiu. ele da avisos de que vai entrar, ele avisa que entrou, ele avisa que vai sair.
talvez seja possível que os males esqueçam de nos avisar que vão entrar, ou, talvez — como a garotinha do filme — não prestamos atenção aos avisos que os males dão. são todos avisos sutis.
tenho sentido ele sair. não prestei atenção aos avisos prévios. a dor da saída é física, mas não dói mais que a emocional.
os males quebram.
sai eu de dentro de mim.

AU(L)TOAMOR

 

//

 

eu me torno todo o amor que existe dentro de mim. como se estivesse ao avesso, reviro-me e então sou
vermelho vívido, sou
carne crua.
do avesso.
por saber que todo o amor do mundo que carrego no meu peito infinitesimal não cabe,
sofro. com o melhor e mais desejado sentimento jorrando em abundância pelas minhas veias, como expelir? como expurgar?
quem merece tanto afetocuidadocarinhoamorapreçobemquererpaixãofascinio?
quem respeita estrondoso sentimento?
quais são os que, ao notarem quantidade tão avultada, querem recebê-lo?
afogam-se aqueles que decidem aprender a nadar em mar aberto. devemos sempre começar a partir do raso, entendendo como quebram as ondas e notando que ondas grandes às vezes não são tão perigosas quanto a marola faceira que aos poucos nos arrasta para onde não da pé.
me tornei a fossa Mariana (por mais irônico que seja o lugar mais profundo do planeta terra ser batizado com o meu nome), quem não sabe nadar no meu raso não sabe nadar no meu fundo. mesmo James Cameron com seu submarino de uma pessoa só não conseguiu ir tão fundo na escuridão que é a profundeza.
meu amor é marola traiçoeira que arrasta, aos poucos, pro fundo aqueles que sequer sabiam mergulhar sem tampar o nariz com as mãos.
quem é corajoso o suficiente em aprofundar na escuridão de sentir?

estou abrindo mão de minhas boias. flutuo livre na superfície do mar aberto.

AUTORRETRATO IV

 

//

 

bagunça mental gera estresse, e vice versa. torna um ciclo. sair de si, olhar de fora e fechar os olhos pra tocar de fora, sentir de fora. “todo artista é bagunceiro, então tá tudo bem” foi o que eu disse sexta passada sobre a bagunça que ficou na produtora depois da gravação. eu sou bagunceira, sou bagunça.
na minha cabeça arte, o estresse que gera
expressão.
vômito
de cores, de formas, de palavras, de GRITOS. eu quero GRITAR! alguém me escuta? alguém me escuta... alguém me escuta!
a desbagunça da bagunça parte de você, a Kali Uchis me disse.
“se você precisar de um herói, é só olhar no espelho”. no espelho vejo bagunça.
Artista.
without art the earth would be just eh e todas as frases clichês sobre isso.
olhei no espelho. tá lá meu herói, enrolado na capa, dormindo tranquilo.
mas é tudo sobre olhar. e depois fechar os olhos e sentir. sempre foi sobre olhar e sentir.
arrume sua cama de manhã, os ácaros preferem camas bagunçadas.

 

 

 

 

ANAMNASE (o diário de um diário)

//

Foi na minha nonagésima folha que descobri, então, o significado de isolamento.

Na verdade, imediatamente depois do último ponto arrastado pingado no fim de minha página. Após tantas semanas, talvez meses, eu aprendi o que Julia tanto tentou me explicar ao longo das pautas do caderno velho e rabiscado que me tornei. Uma agenda. Sequer um diário. Pois, descobri com ajuda de Julia, também, que “diário é o caderno que eu escrevo todo dia, e eu não escrevo todo dia em você”. Talvez diário seja sinônimo de twitter. Todas as vezes que me escrevia Julia falava sobre já ter dito “tudo isso” no twitter. Ela deve escrever nele todos os dias. Como agenda, caderno ou bloco de anotações – e então me recordo de velhos amigos da papelaria – devo ter cumprido bem minha função de aglomerar notas. Unir letras, com palavras, em frases e orações, parágrafos e ideias. Abraçá-las. Resguardá-las, mas sem entendê-las. Tentei, de alguma maneira, desempenhar meu papel – e que grande ironia definir assim meu exercício, visto que sou nada mais do que papel – de cuidar, com atenção e zelo, dos segredos que me eram contados.

Por dois anos vivi em isolamento, e sequer sabia. Ao sair, cumpri minha função por mais 30 folhas.

Julia, nas últimas 30 folhas de minha existência – e talvez seja melhor contar assim, pois só dessa forma eu consigo entender e materializar o tempo – desabafou sobre a angústia gerada pela falta de sociabilidade. Eu, tolo pedaço de ex-árvore, sequer entendia suas lamúrias. Saudade é palavra difícil de entender quando, em sua constituição, falta um coração. Julia dizia sobre a saudade, todas as folhas que me escrevia. Julia reclamava sobre não poder mudar de ambiente e estar cansada de ficar “na mesma casa há tantos meses”. Tenho estado na gaveta, mas não sei há quantos meses. Não sei há quantas folhas tenho estado na gaveta, pois folhas não me sobraram nenhuma. Agora entendo a angustia do isolamento. Mas não me angustio. Porque tornei-me bloco de memórias, não mais de anotações. Anotações me foram rabiscadas por noventa folhas. Limitação de vida útil, obsolescência. O escuro da gaveta e as aranhas de perna fina que costuram teias sobre minha contra-capa cheia de adesivos que me coçam a lombada, são minhas fieis companheiras. Cumprindo suas funções. No fim das contas, talvez, eu sequer tinha uma função. Eu receberia a função que me fosse estabelecida por qualquer um que me retirasse da prateleira da papelaria, me passasse por um laser vermelho e completasse o escambo com uns trocados de moedas.

Julia foi quem me estabeleceu função. Possivelmente cumpri tal função. E somente a mim cabe a minha ressignificação.

Deixo de ser caderno de anotações com folhas pautadas com linhas azuis, passo a ser memória tátil de uma garota em isolamento.

Em minhas últimas linhas, Julia disse que estava lendo “O Diário de Anne Frank”. Duvido que Anne Frank escrevesse em seu diário todos os dias. Mas ele cumpriu sua função de anotar, aglomerar, juntar, guardar e perdurar memórias. Como qualquer diário faz. Como eu fiz por 90 folhas e continuarei fazendo, porque cada registro em mim tornou-se história. Menos os adesivos na lombada, estes incomodam.

E, talvez, até o twitter pode ser um pouco do registro da memória. Mas eu duvido que as pessoas cheirem suas folhas quando o tiram da prateleira da papelaria, como fazem comigo.

VISÕES DE UM METRO E DOZE. UMA SEQUÊNCIA DE FOTOS.

//

 

eu tive que visitar minha melhor amiga nessa quarentena.

o isolamento social me impedia de analisar só por vídeo que, de fato, ela tá maior que a altura da maçaneta da porta. minha melhor amiga me manda áudio dizendo que me ama sempre quando lhe dão a oportunidade. minha melhor amiga pinta desenhos lindos do Nemo e me dá de presente sempre que tem oportunidade. minha melhor amiga me faz de filhinha sempre que tem oportunidade (e de médica, de paciente, de dentista, de bombeira, de cozinheira, de aluna, de babá, de mamãe, de vovó, de boneca, de pula pula também). minha melhor amiga dorme agarrada comigo, no meu colo — as duas suando como se tivessem no sol do meio dia — sempre que tem oportunidade. ela grita, pela janela, que tem saudade de mim, sempre que passo pela sua rua na volta do banco ou do mercado e lhe dou a oportunidade. minha melhor amiga aproveita todas as oportunidades pra me amar e me demonstrar todo o amor que um metro e doze pode carregar. minha melhor amiga, sempre que tem oportunidade, fala pra todo mundo que minha comida preferida é batata frita (porque é a comida preferida dela) e, pensando bem, eu talvez esteja favoritando batata frita nas minhas comidas favoritas. ela aproveita as oportunidades pra me contar histórias. minha melhor amiga me provoca pra brincar de esconde esconde sempre que tem oportunidade. ela aprendeu a escrever meu nome assim que lhe deram a oportunidade. e se eu der oportunidade, minha melhor amiga me conta o filme todo antes dos primeiros 5 minutos de filme. minha melhor amiga não perde oportunidades de me amar. e foi com ela que eu aprendi que o amor é uma flor roxa que nasce no coração de quem tem o coração aberto e disposto a cultivar. amor não é pra trouxas. amor é pros preparados. e eu não perco a oportunidade de tentar agarrar todas as oportunidades que me surgem de poder passar pra ela, de forma mais amadurecida, todo o amor que ela me passou de forma inocente. e devo aproveitar a oportunidade dizer que a maneira inocente é a melhor maneira de aproveitar a oportunidade de amar.

(para Soso)

AUTORRETRATO III

 

//

 

sobre escuridão e autocuidado. alto cuidado.
olhar o próprio umbigo e para bem além dentro dele. as entranhas, estranhas, the guts. deixar sair. o dentro é escuro a olho nu, ligo a lanterna. deixo sair.
sair é autocuidado. é alto cuidado: para com quem tá preso lá dentro, com quem você prendeu lá dentro. deixa sair.
o preto é a ausência de todas as cores. e a escuridão a junção de todas as coisas. deixa as coisas saírem.

autorretrato.

AUTORRETRATO DE RENOVAÇÃO

 

//

 

elas não me completam mais, porque pertencem a antigas pessoas que não são mais as mesmas.
não posso me agarrar ao velho.
quero constante mudança.
parar um relógio para religar 1 minuto depois é ineficiente. vai estar sempre 1 minuto atrasado.
descanso.
estou 1 minuto atrasada.
e a cada minuto que passa fico mais um minuto atrasada. a hora, por fim, não passa.
é como correr numa esteira atrás de um objetivo muito distante. o cansaço é o mesmo, mas nunca chego lá.
como me descobrir se mantenho em mim fragmentos que já descobri não serem eu?

VOLTO PORQUE PRECISO

 

//

 

eu sempre soube que era de outro planeta. não extraterrestre, não do jeito autista da coisa, não querendo ser muito aquariana. só nunca pertenci.
me perguntaram algumas vezes como eu consigo fluir entre papos,
conversas,
nichos e tribos,
como eu me encaixo? eu digo que sou eclética.
o segredo é que eu não encaixo. e sigo sozinha.
minha solitude diz respeito a não encaixar
minha solitude diz respeito ao desconfortável
minha solitude diz respeito à fluir.
logo fui questionada: qual dos vários papos, conversas, nichos e tribos é você?
minha solitude diz respeito à não saber.
Giovani Cidreira canta que quem sofre sozinho, sofre calado e que é melhor assim.
minha solitude diz respeito à silêncio

RETRATOS DE AMOR DE TIA, UMA CARTA ABERTA AO VALENTIM

 

//

 

no segundo semestre de 2017 a Talita e a Tamires (e seus respectivos cônjuges) foram pra Califórnia. voltaram cheias de presentes que eu uso até hoje com o coração quentinho — tipo minha primeira claquete de verdade. a Talita, em específico, voltou com o maior dos presentes: a frase “me ajuda a inventar alguma coisa pra contar pro pai que eu to grávida?”. ela voltou da Califórnia com o melhor presente. um pãozinho no forninho que me deu a honra de vestir a coroa de titia.
no ano seguinte eu fui pra Califórnia. passei um mês inteirinho estudando cinema de segunda a segunda, mas só pensava que em algum momento daquele mês o forninho apitaria e o pãozinho ia sair perfeito, fofinho e bem assado de lá de dentro. e ele saiu. dia 5 de julho de 2018 foi um dia que eu não dormi. era 5:50 aqui, 1:50 lá. a 10 mil km de distância eu senti o impacto da presença do Valentim na terra, e chorei. desde então não parei de chorar.
o choro mais puro de amor transbordando. o impacto que o Valentim deu na terra aquele dia 5, ele dá todos os outros dias no meu coração. os buraquinhos no coração são total e completamente tampados quando o Valentim sorri pra mim, ou me olha, ou dorme no meu ombrinho, ou segura minha mão, ou chora berrando no meu ouvido. e eu não vejo a hora de o Valentim verbalizar “titia” pra eu me completar ainda mais numa parte que eu nem sabia que faltava.
faz 12 meses que ele impactou a terra. 11 meses que eu finalmente vi o rostinho dele de perto a primeira vez.
acima de todo meu amor incondicional ao meu sobrinho, tem uma admiração sem tamanho à minha irmã. que grande exemplo de mulher e mãe que a Talita é. faz 21 meses que ela é mamãe, talvez função que ela exerça tão bem quanto ser irmã.

bottom of page